Sinceramente, qual o lucro que seu negócio dá?

Gestão 23 de julho de 2020

Talvez essa seja uma das mais difíceis perguntas que o pequeno empresário possa responder.

Difícil porque? Porque a grande maioria dos empresários não tem uma clara definição do que é lucro.

Para muitos, lucro é o valor que sobra entre o dinheiro que entrou com o que saiu. Mas isso nem de longe é lucro. 

Outro termômetro muito utilizado é o valor disponível no caixa e em saldo bancário.

Se o valor aumentar de um período para outro a empresa operou com lucro, caso contrário pode ter incorrido em prejuízo. 

Mas afinal, o que é lucro? Porque é tão difícil assim apurar a lucratividade de uma empresa?

Venha comigo, nesse artigo vou te responder essas questões e te dar dicas de como apurar a lucratividade do seu negócio com a máxima exatidão. 

O erro primário

Um dos maiores entraves à correta apuração do lucro é o desconhecimento de que o lucro nem sempre se revela em dinheiro.

O resultado final da operação pode transformá-lo, se houver, em aumento do crediário ou mesmo aumento do estoque, por exemplo.

Tanto o lucro quanto o prejuízo podem se acomodar de diversas formas. 

Portanto, a primeira coisa que o gestor precisa compreender é que é necessário separar o patrimônio e o resultado da empresa.

Complicou? Vou tentar esclarecer. 

Seu patrimônio e seu resultado

Para exemplificar, tente se envolver nesse caso hipotético. Suponhamos que no último dia de maio desse ano você possuísse uma casa, um carro e um lote, além de certa quantia no banco. 

Conta – Ativo Valor
Casa 300.000
Carro 55.000
Lote 85.000
Saldo Banco 5.000

Se somado, seu patrimônio seria de R$ 445.000,00, né? Não! Não é assim, pois você também tem algumas dívidas:

Conta – Passivo Valor
Financiamento da Casa 125.000
Financiamento do Carro 5.000
Empréstimo Bancário 5.000

Nesse caso, você possui ativos de R$ 445.000,00, mas também tem passivos que totalizam R$ 135.000,00.

Então seu patrimônio líquido real é de R$ 310.000,00.

A interpretação é de que, se você vender tudo que tem e pagar tudo que deve te sobrará R$ 310.000,00. 

Essas contas, tantos as “ativas” quanto as “passivas” são contas patrimoniais e servem para apurar o patrimônio líquido de alguém ou de algum negócio. 

Antes de passar para as contas de resultado, vamos montar um quadro para facilitar o entendimento das contas patrimoniais:

Contas – Ativo Valor Contas – Passivo Valor
Casa 300.000 Financ. da Casa 125.000
Carro 55.000 Financ. do Carro 5.000
Lote 85.000 Emp. Bancário 5.000
Saldo Banco 5.000    
Total Ativo 445.000   135.000
    Patrimônio 310.000

Agora sim, vamos às contas de resultado. Esse tipo de conta registra a movimentação financeira de um período determinado.

Elas são compostas de receitas e despesas e em toda virada do mês apura-se as sobras e o resultado é acumulado as contas de patrimônio. 

Daremos prosseguimento ao exemplo anterior. Imagine que você teve a seguinte movimentação financeira no mês de junho.

Movimentação Financeira Receita Despesa
Salário do mês 12.000  
Despesas de casa   4.500
Lazer    1.000
Educação dos filhos   1.500
Parcela Financiamento da Casa   1.800
Parcela Financiamento do Carro   1.200
Parcela Empréstimo Bancário   1.000
Total 12.000 11.000

Neste exemplo dá pra ver claramente que você gastou 11 mil dos 12 mil reais que recebeu como salário, ou seja, sobrou 1 mil reais nesse mês, recursos que foram depositados na conta bancária.

Transportando o exemplo para o mundo dos negócios, poderíamos dizer que os mil reais representariam o lucro do mês?

Não necessariamente, pois pode ser que você tivesse outras despesas que deveriam ser pagas no período e não as pagou por algum motivo.

O mesmo se pode dizer sobre alguma outra receita que deveria entrar nessa conta e ficou de fora. 

O importante, nesse momento, é entender a relação das contas de resultado com as patrimoniais. Olha só como as coisas ficaram:

Contas – Ativo Valor Contas – Passivo Valor
Casa 300.000 Financ. da Casa 125.000 – 1.800 = 123.200,00
Carro 55.000 Financ. do Carro 5.000 – 1.200 = 3.800
Lote 85.000 Emp. Bancário 5.000 – 1.000 = 4.000
Saldo Banco 5.000 + 1.000 = 6.000    
Total Ativo 446.000,00   131.000,00
    Patrimônio 315.000,00

Bom, a primeira impressão é que tinha lhe sobrado 1.000 reais no mês, mas se você comparar o valor do seu patrimônio no final do mês de maio (R$ 310.000) com o valor apurado no final do mês de junho (R$ 315.000) sua riqueza aumentou R$ 5.000 no período. 

Nesse caso a riqueza foi refletida no aumento do saldo da conta bancária e na diminuição das dívidas.

Esse é o primeiro passo para entender lucratividade, antes de interpretar o quanto sobrou você tem que entender o quanto seu patrimônio evoluiu. 

A evolução positiva do patrimônio lhe garante que a operação é superavitária e ainda lhe informa onde foi aplicado o lucro do período, nesse caso ficou evidenciado que o dinheiro foi acumulado no saldo bancário e na redução das despesas. 

Os teóricos me matariam se eu dissesse que esse seria o lucro da empresa, mas é um excelente termômetro para que você consiga entender os resultados do seu negócio. 

O lucro que pode até não ser o lucro

De volta ao que a teoria prega, o lucro é obtido quando se subtrai das receitas da empresa todos seus custos e despesas num período.

Acontece, porém, que, para a contabilidade, existem dois regimes para se apurar o lucro: caixa e competência. 

O regime de caixa, como o próprio nome diz, considera como receita, custo e despesa aquilo que realmente foi recebido ou pago num determinado período.

O ponto positivo é que o gestor tem uma real noção de como se comporta a entrada e saída de recursos do negócio.

O ponto crítico é que nem sempre a empresa recebe tudo que está programado para um período, da mesma forma que também pode acontecer de não pagar algo que estava programado ou mesmo de antecipar pagamentos de outros períodos. 

Um exemplo clássico é o pagamento de 13º salário dos funcionários.

No regime de caixa o pagamento dessa remuneração impactará pesadamente os meses de novembro e dezembro, pois é nesse período que se pago o 13º salário. 

Sendo assim, em novembro e dezembro, a DRE provavelmente denunciará prejuízo o que pode não corresponder a realidade, pois o que aconteceu realmente é que houve um desembolso maior nesses meses do que a média de todos os outros meses do ano. 

Então a apuração do lucro através do regime de caixa tem esse sério problema, ela encoberta a situação real, basta que uma receita extra aconteça ou que uma despesa seja antecipada ou não paga. 

O lucro e a geração de riquezas

A apuração obtida pelo regime de competência não consegue ajudar o gestor na questão de fluxo de caixa, mas, por outro lado, o resultado apresentado corresponde fielmente a capacidade do negócio gerar riquezas. 

Nesse regime a apuração do lucro considera todas as receitas, custos e despesas que a empresa deveria auferir ou pagar num determinado período, ou seja, independe de ter sido recebida ou paga. 

A intenção é demonstrar o resultado considerando que todas as receitas se efetivassem e que todos os gastos também fossem pagos. Mas ai você se pergunta: mas que lucro é esse? Se o cliente não paga eu não tenho lucro. 

Bom, vamos por partes:

Em primeiro lugar, considerando todas as receitas e todos os gastos a DRE consegue informar se a operação foi lucrativa ou não.

Esse é o primeiro ponto. Se esse número for negativo, tenha certeza, nesse momento sua empresa é inviável ou, ao menos, trabalha em prejuízo. 

Qualquer análise de lucratividade sempre deve partir desse resultado: em condições normais de operação, onde se recebe tudo que tem a receber e se paga tudo que se tem pra pagar num determinado período a empresa opera em lucro ou prejuízo? 

Talvez você se depare com uma situação controversa, e muito comum: a empresa apresenta lucro pelo regime de competência, mas vive apertada financeiramente.

O bom de se utilizar sistema de gestão que contemple o Balanço Patrimonial e a DRE por caixa e competência é que é perfeitamente possível rastrear a destinação do lucro ou do prejuízo. 

No Balanço Patrimonial é fácil entender a variação de cada conta e descobrir se o lucro está indo para o estoque ou para o crediário, por exemplo.

Uma vez identificado, para sair do aperto financeiro, o gestor precisa corrigir as disfunções dos processos.

Se o objetivo dele é formar capital de giro, mas o lucro tá sendo investido em estoques, o que tem que ser resolvido é o processo de compras, a imposição de limites de compra e a gestão de estoques como um todo. 

Então, se todo mês o crediário aumenta e consome o lucro da empresa, o problema da falta de capital de giro não está na operação como um todo, mas na gestão do departamento de crédito e cobrança. 

Essa rastreabilidade é de suma importância, haja vista que os processos podem ser aperfeiçoados até que o lucro esteja sendo canalizado justamente para onde a empresa mais precisa. 

Sendo assim, apurar o lucro pelo regime de competência é a forma mais indicada.

Mas, por outro lado, utilize as demais demonstrações, DRE pelo regime de caixa e Balanço Patrimonial, para que a análise seja ainda mais precisa e reveladora. 

A análise da DRE nos dois regimes

Ao apurar o lucro nos dois regimes, caixa e competência, é possível contrastar os resultados.

Por exemplo: quanto a empresa deveria ter de receita e quanto realmente ela conseguiu auferir?

Quais foram os motivos da divergência? Quais ações a gestão pode determinar para que a empresa consiga diminuir os atrasos ou a inadimplência?

Da mesma forma essa análise pode ser feita nos custos e despesas. A sistemática é a mesma e a intenção é sempre buscar respostas para algum ponto em que a empresa não está sendo tão eficiente. 

A falsa riqueza 

Voltando no exemplo da variação patrimonial, lembra quando apuramos que seu patrimônio evoluiu de R$ 310.000 para R$ 315.000 num único mês?

Nele ficou claro que, apesar de ter sobrado (em caixa) apenas R$ 1.000, a variação do seu patrimônio foi de R$ 5.000. 

Pois bem, no mundo dos negócios existe um problema na avaliação da riqueza de uma empresa: a qualidade e liquidez de seus ativos. 

Talvez o Balanço Patrimonial esteja apresentando uma variação positiva de um período para outro o que agrada profundamente os gestores da empresa.

Não dá pra falar que os empresários não tenham motivos para ficarem felizes, mas também pode ser que o crediário tenha uma boa parcela de títulos podres, como também o estoque possa estar recheado de produtos que giram pouco ou próximo da data de vencimento.

Também pode ser que a empresa tenha muito dinheiro imobilizado numa frota decadente ou numa planta fabril sucateada. 

Então, principalmente se seu objetivo for utilizar esses demonstrativos para gerir sua empresa e não apenas atender as necessidades do fisco (já que isso a sua contabilidade já faz), fique de olho na capacidade de cada ativo se transformar em dinheiro, pois não adianta nada ter um patrimônio monstruoso que não se converta em dinheiro. 

Entendi como apurar o lucro, mas vai dar trabalho!

Se você entendeu tá ótimo. Agora, se isso vai te dar trabalho ou não, vai depender da importância que você dá a isso para gerenciar sua empresa e a qualidade do sistema de gestão que você utiliza. 

Um bom sistema de gestão apura o lucro do negócio de maneira on-line, pois na medida que as operações vão acontecendo (venda, compra, pagar, receber, etc.) os relatórios vão sendo montados e ficam prontos para serem emitidos no momento em que você quiser. 

Saber o lucro da sua empresa é essencial!

Deixe seu comentário

Você também pode gostar